Entre o passado e o futuro. Londrina, 86 anos.
20/12/2020 - Clodomiro José Bannwart Júnior

Entre o passado e o futuro: Londrina, 86 anos

Confúcio sentenciava: “se queres prever o futuro, estuda o passado”. Na semana em que Londrina comemorou 86 anos, a cidade foi brindada com várias atividades culturais e lançamentos de livros. Um deles é o de Chico Amaro e Paulo Boni, intitulado “Widson Schwartz, repórter: o colecionador de histórias”. Schwartz recorda um fato excepcional ao demonstrar que nos primórdios de Londrina, “a cidade não tendo passado para lembrar, se empenhava em preparar o futuro”. Depois de 86 anos, o passado está materializado em cada pedaço desse chão. Aristóteles afirmava que nem os deuses podem desfazer o passado. Conhecê-lo continua sendo o melhor GPS a guiar o futuro.

Londrina construiu sua história no esteio de uma colonização planejada. A estrada de ferro, rasgada na floresta, serviu de artéria a pulsar o desenvolvimento da região. Londrina firmou-se como referência porque conjugou etnias e línguas diversas no plural. Nasceu cosmopolita. Soube entrelaçar o local, o regional e o nacional na mesma métrica.

Extensão do Centro-Oeste paulista, a terra vermelha norte paranaense pouco identificava-se com a capital do Paraná. A ferrovia que avançava mata adentro direcionava o olhar para o noroeste do Estado, com a pretensão de alcançar Guaíra e integrar-se ao Paraguai, construindo longa e audaciosa rota que passaria por Londrina e desaguaria no porto de Santos. A estrada de ferro só tardiamente alcançaria Paranaguá.

Londrina nasceu grande porque estava inserida em um ampla ideação. As terras férteis e a acomodação da cultura cafeeira também contribuíram para que a cidade ostentasse o título de capital mundial do café. Riqueza, desenvolvimento e progresso fundiram-se em progressão geométrica.

A geada de 1975, no entanto, matou o cafeeiro e com ele, a despeito de qualquer otimismo, foi sepultada a esperança de uma geração cultivada nos cafezais. Êxodo rural, empobrecimento da população e crescimento de uma urbanização periférica foram fatores que ajudaram a parir populistas versáteis em ofertar respostas simples a problemas complexos. Populismo arcaico que, aliás, está sempre pronto a renascer em personagens caricatos, atentando contra instituições e o bom senso.

Contra desvarios políticos que não coadunam com os princípios de uma gestão responsável e democrática, o poder público local, a sociedade civil e demais entidades, como o Fórum Desenvolve Londrina e a ACIL, deram um importante passo na criação de um Planejamento Estratégico para o Munícipio, com o propósito de pensar a cidade para os próximos vinte anos.

Se, no passado, a cidade dependia muito mais da ousadia de homens e de mulheres na preservação do interesse público, hoje, com os avanços conquistados na esfera da administração pública, é importante que haja uma integração institucional, participativa e democrática entre o público e o privado visando salvaguardar um futuro prenhe de programas factíveis. Isso exige responsabilidade partilhada. A responsabilidade (do latim respondere) implica na capacidade de fornecer respostas coerentes aos desafios do nosso tempo. Esboçar o futuro é, sim, responsabilidade. O sucesso do projeto em construção dependerá do empenho de todos os londrinenses e, sobretudo, dos seus dirigentes.

Londrina está, como no passado, assentando os trilhos que a conduzirão ao futuro. É preciso bons condutores na direção dessa locomotiva, comprometidos com o planejamento ora em construção. As duas últimas administrações restabeleceram a credibilidade e a confiança da gestão pública. É imprescindível, no campo político, avançar na formação de uma boa safra de lideranças que estejam à altura dos ideais que a cidade projeta. É essencial, ainda, envolver as direções partidárias para que evitem chancelar candidatos inábeis ou descomprometidos com o futuro que começa a ser esboçado.

Clodomiro José Bannwart Júnior é Professor de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina

Artigo publicado na Folha de Londrina e no Jornal Ecos de Sant’Ana, dezembro de 2020.