Pós-verdade e Fakenews: reflexões sobre a guerra de narrativas
27/04/2020 - Clodomiro José Bannwart Júnior

Pós-verdade e Fakenews: reflexões sobre a guerra de narrativas

 

Org. Mariana Barbosa. Editora Cobogó. Rio de Janeiro. 2019

 

 

Na era de tweets, de notícias rápidas e de conteúdos estilo “fast food”, o livro Pós-verdade e Fakenews: reflexões sobre a guerra de narrativas, organizado pela jornalista Mariana Barbosa, com selo da editora Cobogó, merece atenção. A importância da obra está em tratar de um tema ainda emaranhado e pouco explorado, dando a palavra a várias vozes – jornalistas, juristas, cientista política, economista, filósofo e matemático. A questão da pós verdade e das Fakenews é tratada sob o prisma da interdisciplinaridade. Isso, por si só, constitui um ganho enorme ao leitor.

Mas não é só isso! O livro enfrenta a temática sob distintas perspectivas, com o compromisso da brevidade e, sobretudo, da objetividade. Ao todo são oito artigos e duas entrevistas que se relacionam e se complementam, além da apresentação de Mariana Barbosa que resume o tópico principal tratado por cada autor.

O livro afasta, de saída, a ideia de que as pessoas são facilmente manipuladas em razão de certo déficit cognitivo. Ao abandonar ideias simplistas cultivadas pelo senso comum, os autores, de modo geral, sinalizam a necessidade de mais pesquisas a comprovar certas teses, como a que infere ser o resultado das eleições no Brasil, em 2018, determinada por Fakenews. Ilações de causa e feito desconectadas de base empírica não sobrevivem nas análises dos autores, mais ocupados em diagnosticar o fenômeno abordado do que propriamente a tecer prognósticos prematuros.

O livro busca desvelar as técnicas de manipulação e os mecanismos de automação que são utilizados para direcionar informações – distorcidas e falseadas – a grupos e pessoas por intermédio das mídias sociais. Mostra a relação entre Fakenews e valores partilhados comumente. Aborda a crítica direcionada aos consensos estabelecidos pela ciência, por intelectuais e especialistas que, por muito tempo, perduraram isentos de questionamentos. Expõe ainda que a falsidade das notícias depende, em boa medida, da aparência e da credibilidade do bom jornalismo. Esse mesmo jornalismo que é duramente criticado nas redes sociais. O filtro das notícias que antes passava pela impressa, hoje é controlado e selecionado por algoritmos de inteligência artificial que fazem muito mais coisas, como assumir a produção automatizada de Fakenews, as chamadas deep fakes.

Todas essas questões suscitam questionamentos que perpassam a esfera jurídica. Afinal, a liberdade de expressão só comporta discursos portadores de verdade? Combater Fakenews não esconde, de forma pouco disfarçada, a censura? Ou o esparrame de Fakenews tende a colocar em perigo as balizas da democracia e do próprio Estado de Direito? Como, enfim, combater as Fakenews? Apostar na educação, na informação de qualidade, na conscientização coletiva, envolvendo a sociedade, os governos, os políticos e, sobretudo, as empresas de tecnologia?

A obra suscita inúmeras dúvidas diante do quadro da pós-verdade, dúvidas que instigam imaginação e exigem o alargamento do debate.

O livro, seguramente, permite dilatar o horizonte da reflexão a respeito do tema.

 

Clodomiro José Bannwart Júnior é Doutor em Filosofia.